Recebo Comissões Por Fora da Carteira. O que fazer?

Compartilhe
recebo-comissoes-por-fora-carteira
Recebe comissões por fora da carteira? Descubra seus direitos e como exigir seus direitos na Justiça do Trabalho com apoio jurídico.
Resumo em tópicos

“Você bateu todas as metas de vendas do mês, mas na hora de receber, parte da sua remuneração vem como comissões por fora da carteira, em um envelope separado ou por transferência bancária sem registro no holerite?

Essa prática é mais comum do que se imagina e pode estar prejudicando seriamente seu futuro financeiro.”

Milhares de profissionais de vendas e representantes comerciais enfrentam essa situação diariamente no Brasil.

Enquanto o dinheiro extra no bolso parece vantajoso no momento, os prejuízos a longo prazo são devastadores: férias reduzidas, 13º salário menor, FGTS incompleto e até aposentadoria prejudicada.

A boa notícia? Você tem direitos garantidos por lei e pode recuperar esses valores.

Neste artigo, vamos explicar exatamente o que são comissões por fora da carteira, quais prejuízos elas causam e, principalmente, como você pode proteger seus direitos trabalhistas contra essa prática ilegal que beneficia apenas o empregador às custas do seu suor e dedicação.

Empresas que pagam comissões por fora estão deliberadamente sonegando seus direitos para economizar com impostos e encargos.

Não permita que continuem lucrando à custa do seu futuro. Continue lendo e descubra como reverter essa situação.

O que são Comissões Por Fora da Carteira?

O que são Comissões Por Fora da Carteira?

Comissões por fora da carteira são valores pagos ao trabalhador como remuneração por vendas ou serviços realizados, mas que não constam na folha de pagamento oficial nem no contracheque.

Essa prática ocorre quando a empresa registra apenas um salário-base na carteira de trabalho, mas complementa a remuneração com pagamentos “extraoficiais”, geralmente em dinheiro, transferências bancárias pessoais ou até mesmo em forma de benefícios não declarados.

Do ponto de vista jurídico, essas comissões têm natureza salarial, independentemente da forma como são pagas.

O artigo 457 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) é claro ao estabelecer que:

“Compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber.”

E o parágrafo primeiro complementa:

“Integram o salário a importância fixa estipulada, as gratificações legais e as comissões pagas pelo empregador.”

Ou seja, pela lei, toda comissão deve ser registrada e integrar oficialmente seu salário, independentemente de acordos verbais em contrário.

Qualquer prática diferente disso é considerada fraude trabalhista.

Por que as Empresas Pagam Comissões Por Fora?

Por que as Empresas Pagam Comissões Por Fora?

Entender a motivação das empresas ajuda a compreender a dimensão do problema. As empresas adotam essa prática principalmente por razões financeiras:

  1. Economia com encargos trabalhistas: Ao não registrar o valor total das comissões, a empresa deixa de pagar cerca de 36,8% em encargos sobre esse montante.
  2. Redução da base de cálculo para benefícios: Férias, 13º salário, FGTS e verbas rescisórias são calculados sobre o salário registrado. Com valores menores na carteira, a empresa economiza significativamente nesses benefícios.
  3. Sonegação fiscal: Pagamentos não oficiais geralmente não entram na contabilidade da empresa, reduzindo a base de cálculo para impostos corporativos.
  4. Flexibilidade nas negociações comerciais: Algumas empresas usam essa prática para oferecer “incentivos extras” que podem ser facilmente ajustados ou removidos sem formalidades.

Um exemplo prático: para um vendedor que recebe R$ 2.000 de salário registrado e mais R$ 3.000 em comissões por fora, a empresa economiza aproximadamente R$ 1.104 mensais apenas em encargos trabalhistas sobre as comissões não registradas.

Em um ano, isso representa mais de R$ 13.000 de economia para o empregador, e de prejuízo para o trabalhador e para os cofres públicos.

Impactos Negativos para o Trabalhador

Impactos Negativos para o Trabalhador

Receber comissões por fora pode parecer vantajoso no curto prazo, mas os prejuízos são significativos e se acumulam ao longo do tempo:

Prejuízos no FGTS

O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) corresponde a 8% do seu salário mensal registrado. Se você recebe parte da remuneração por fora, esse valor não é considerado no cálculo.

Exemplo prático: Um vendedor que recebe R$ 2.000 registrados e R$ 3.000 por fora deixa de acumular R$ 240 por mês no FGTS (8% sobre R$ 3.000). Em 5 anos, isso representa um prejuízo de R$ 14.400, sem contar a correção monetária e os juros.

Férias e 13º Salário Reduzidos

Tanto as férias (acrescidas de 1/3) quanto o 13º salário são calculados com base na remuneração oficial.

Exemplo prático: No mesmo caso acima, nas férias, o trabalhador receberia apenas R$ 2.666,67 (R$ 2.000 + 1/3), quando deveria receber R$ 6.666,67 (R$ 5.000 + 1/3). Uma diferença de R$ 4.000 a cada período de férias!

Impacto na Aposentadoria

As contribuições para o INSS também são feitas apenas sobre o valor registrado, o que afeta diretamente o cálculo da sua aposentadoria futura.

Exemplo prático: Considerando o mesmo caso, a diferença na contribuição mensal para o INSS seria de aproximadamente R$ 330 (11% sobre R$ 3.000). Ao longo de 35 anos de carreira, isso pode representar uma redução de até 60% no valor da aposentadoria.

Outros Prejuízos Significativos

  • Seguro-desemprego menor: Calculado com base nos últimos salários registrados.
  • Dificuldade para comprovar renda: Problemas para obter financiamentos, alugar imóveis ou conseguir cartões de crédito.
  • Aviso prévio e multa rescisória reduzidos: Em caso de demissão sem justa causa.
  • Auxílio-doença e licença-maternidade menores: Calculados sobre o salário oficial.

Seus Direitos ao Receber Comissões Por Fora

Seus Direitos ao Receber Comissões Por Fora

Se você recebe comissões por fora da carteira, saiba que a lei está ao seu lado. Você tem direito a:

  1. Integração das comissões ao salário: Todos os valores recebidos como comissão, mesmo que pagos por fora, devem ser incorporados ao seu salário para todos os efeitos legais.
  2. Recálculo de todos os benefícios: FGTS, férias, 13º salário, horas extras e demais verbas trabalhistas devem ser recalculados considerando o valor real da sua remuneração.
  3. Diferenças retroativas: Você pode reclamar as diferenças dos últimos 5 anos trabalhados (prazo prescricional trabalhista).
  4. Proteção contra retaliação: A lei proíbe que a empresa demita o funcionário por ter reivindicado seus direitos. Caso isso ocorra, caracteriza-se demissão discriminatória, sujeita a indenização.

É importante ressaltar que, mesmo que você tenha concordado com o recebimento por fora, esse acordo não tem validade legal. O artigo 9º da CLT estabelece que:

“Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação.”

Ou seja, nenhum acordo, verbal ou escrito, pode anular seus direitos trabalhistas garantidos por lei.

Como Comprovar o Recebimento de Comissões Por Fora

Como Comprovar o Recebimento de Comissões Por Fora

Um dos maiores desafios para regularizar sua situação é comprovar que você realmente recebe valores por fora. Por isso, é fundamental reunir evidências:

Documentos Úteis como Prova

  • Extratos bancários: Depósitos ou transferências regulares que não correspondam ao valor do seu holerite.
  • Recibos ou comprovantes: Qualquer documento assinado pela empresa reconhecendo o pagamento.
  • E-mails e mensagens: Comunicações que mencionem valores de comissões, metas atingidas ou pagamentos.
  • Relatórios de vendas: Documentos que mostrem suas vendas e o percentual de comissão aplicável.
  • Tabelas de comissionamento: Políticas da empresa sobre pagamento de comissões.

Testemunhas

Colegas de trabalho que também recebem por fora ou que tenham conhecimento dessa prática podem ser testemunhas valiosas. Lembre-se que eles não podem sofrer retaliação por testemunhar em seu favor.

Gravações de Reuniões

Em alguns casos, gravações de reuniões onde o pagamento por fora é discutido podem ser aceitas como prova, desde que você seja um dos interlocutores (gravação ambiental).

Dica importante: Comece a reunir essas provas o quanto antes, mesmo que não tenha decidido tomar nenhuma medida imediata. Documentos podem se perder e testemunhas podem mudar de empresa.

Casos Reais: Trabalhadores que Recuperaram seus Direitos

Casos Reais: Trabalhadores que Recuperaram seus Direitos

Caso 1: Vendedor de Loja de Móveis

João (nome fictício) trabalhava como vendedor em uma grande rede de móveis. Recebia um salário fixo de R$ 1.500 registrado em carteira, mas suas comissões, que variavam entre R$ 2.000 e R$ 4.000 mensais, eram pagas em dinheiro.

Após 4 anos nessa situação, decidiu buscar seus direitos.

Resultado: Através de ação trabalhista, conseguiu comprovar o pagamento por fora usando extratos bancários, depoimentos de colegas e relatórios de vendas.

A empresa foi condenada a pagar aproximadamente R$ 78.000, referentes às diferenças de FGTS, férias, 13º salário e reflexos nas verbas rescisórias. O processo durou cerca de 18 meses.

Caso 2: Representante Comercial

Maria (nome fictício) atuava como representante comercial para uma distribuidora de produtos médicos.

Embora fosse contratada como CLT, recebia apenas o salário mínimo registrado, enquanto suas comissões (cerca de R$ 7.000 mensais) eram pagas através de transferências bancárias descritas como “adiantamentos” ou “ajuda de custo”.

Resultado: Após reunir provas por 8 meses, incluindo e-mails da gerência mencionando comissões e transferências bancárias regulares, Maria conseguiu um acordo no valor de R$ 120.000, correspondente a parte das diferenças devidas, evitando um processo mais longo.

A negociação durou aproximadamente 3 meses após a apresentação das provas.

Estes casos demonstram que, com as provas adequadas, é possível recuperar valores significativos e garantir que seus direitos sejam respeitados.

Passos Práticos para Garantir seus Direitos

Passos Práticos para Garantir seus Direitos

Se você está recebendo comissões por fora da carteira, siga estes passos para proteger seus direitos:

1. Documente Tudo

Comece imediatamente a guardar todas as provas possíveis:

  • Tire fotos de recibos
  • Salve e-mails em formato PDF
  • Faça capturas de tela de mensagens
  • Guarde extratos bancários organizados por data
  • Mantenha um registro detalhado das suas vendas e comissões

2. Avalie a Possibilidade de Negociação

Antes de partir para medidas mais drásticas, considere uma conversa com seu empregador:

  • Aborde o assunto de forma profissional, sem acusações
  • Explique que você entende seus direitos e os prejuízos causados
  • Proponha uma regularização gradual da situação

3. Procure Orientação Jurídica Especializada

Consulte um advogado trabalhista para:

  • Avaliar as provas que você possui
  • Calcular os valores devidos
  • Definir a melhor estratégia para seu caso específico
  • Entender os riscos e benefícios de cada abordagem

4. Considere o Sindicato da Categoria

O sindicato pode oferecer:

  • Orientação inicial gratuita
  • Mediação com a empresa
  • Representação em acordos coletivos
  • Informações sobre casos similares na mesma empresa

5. Defina um Plano de Ação

Com base na orientação profissional, decida entre:

  • Negociação direta com a empresa
  • Mediação pelo sindicato
  • Denúncia ao Ministério do Trabalho
  • Ação trabalhista

6. Atenção aos Prazos

Lembre-se que você tem até 5 anos para reclamar direitos do período em que está trabalhando, mas apenas 2 anos após o desligamento da empresa. Não deixe o tempo passar!

Proteja seus Direitos: Aja Agora!

Receber comissões por fora da carteira pode parecer vantajoso no momento, mas os prejuízos a longo prazo são enormes e afetam diretamente sua qualidade de vida atual e futura.

Não permita que seu esforço e dedicação sejam desvalorizados por uma prática que beneficia apenas o empregador.

Seus direitos trabalhistas são garantidos por lei e não dependem de acordos verbais ou da “boa vontade” da empresa.

As comissões por fora da carteira representam uma violação clara da legislação trabalhista e você tem todo o direito de buscar a regularização dessa situação.

Quanto mais tempo passa, maiores são seus prejuízos. Cada mês que você recebe comissões por fora significa menos dinheiro no seu FGTS, menor valor de aposentadoria e redução nos seus benefícios trabalhistas.

Não enfrente essa situação sozinho. Busque orientação jurídica especializada para entender completamente seus direitos e as melhores estratégias para o seu caso específico.

Um advogado trabalhista experiente pode fazer toda a diferença na recuperação dos valores que você tem direito.

Converse hoje mesmo com um advogado especializado e proteja o que é seu por direito. Seu futuro financeiro agradecerá.

Leia Também:

advogado Alfredo Negreiros
Advogado Alfredo Negreiros

Alfredo Antunes Negreiros, inscrito na OAB/CE sob o nº 43.475.

Sócio e fundador do escritório Alfredo Negreiros Advocacia.

Entusiasta de atividades físicas, apreciador de café, dedicado à família e amante de bons vinhos.

Outros artigos do Blog
Visão geral de privacidade

Este site usa cookies para que possamos fornecer a melhor experiência de usuário possível. As informações de cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.